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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estudo revela índices de internações por diarreia em cidades da região

Sandro Thadeu


Crianças tomam banho no mangue: contato da água que recebe esgoto pode provocar contaminação

O acesso ao saneamento básico é um direito universal previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, o que está no papel se mostra muito longe da realidade. No Brasil, somente 43% da população têm acesso à coleta de esgoto e apenas um terço dos dejetos coletados é tratado. A falta de acesso a esse serviço fundamental traz grandes prejuízos à saúde das famílias, principalmente, às de baixa renda.

A consequência da falta de investimento do Poder Público no setor é a exposição permanente desses cidadãos a doenças, como diarreia. Essa conclusão faz parte de um estudo divulgado em meados de janeiro e organizado pelo Instituto Trata Brasil, intitulado Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População.

O trabalho fez um diagnóstico dos 81 municípios do País com mais de 300 mil habitantes, como Santos, Guarujá e São Vicente. O cruzamento de dados de 2008 dos ministérios da Saúde e das Cidades, IBGE e Banco Mundial revela uma grande diferença entre a situação das três cidades da região.

Santos possui a terceira menor taxa de internação por diarreia para cada 100 mil habitantes (13,6), ficando atrás de São Bernardo do Campo e Campinas (ambas com 11,5). São Vicente ocupa a 18ª colocação (28,6) e Guarujá, o 20º posto (29,2). Ambas estão à frente de locais importantes no Brasil, como Belém, Belo Horizonte, Niterói, Brasília e São Paulo. Apesar disso, os números de ambas são o dobro do santista.

Essa diferença pode ser explicada por alguns aspectos. Um deles é o índice de coleta de esgoto. Em Santos, ele é de 99%. Já na Ilha de Santo Amaro, a taxa atinge 53%, e na primeira vila do Brasil, 64%. A proporção de famílias em situação de pobreza absoluta (renda per capita de até um quarto do salário mínimo) também ajuda a compreender esse quadro. Conforme dados de 2003 do IBGE, elas representam 5% do total da população santista, enquanto em São Vicente totalizam 15% e, em Guarujá, 22%.

Internações

A Pérola do Atlântico foi a cidade da Baixada que mais gastou dinheiro na hospitalização de pacientes com diarreia (R$ 11.422,00), seguida por São Vicente (R$ 9.540,00) e Santos (R$ 4.470,00). Conforme o presidente da Trata Brasil, Édison Carlos, o saneamento é "uma pauta esquecida" no País e que afeta, principalmente, as famílias de baixa renda.

"Se houvesse um investimento maior em saneamento, a população ganharia em saúde, e o dinheiro gasto pelas prefeituras com essas internações poderia ser destinado à educação, por exemplo", explicou. A diarreia representa mais de 50% dos custos dos 81 municípios avaliados entre as doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado. Ela é a responsável por 80,7% dos gastos com esse tipo de enfermidade em Guarujá.

Crianças em risco

Um dos aspectos do trabalho que mais surpreenderam os pesquisadores do Trata Brasil foi o aumento de 61% do número de menores de 5 anos internados por diarreia: em 2007, foram 39,2 mil, enquanto no ano seguinte, 67,3 mil. Conforme Carlos, esse grupo é o mais vulnerável, pois concentrou mais de 50% do total de pessoas hospitalizadas por causa da doença.

"Não esperávamos esse resultado. Os números apenas comprovam um grande erro: a falta de visão política dos nossos governantes ao deixaram de investir pesado em saneamento durante as duas últimas décadas", ressaltou. Em Guarujá, o índice foi de 71,9%. A marca registrada ficou abaixo da média em Santos (46,6%) e São Vicente (33%), única cidade local onde houve mortes de crianças por diarreia em 2008.


O que são diarreias?

Sintomas comuns de infecção gastrointestinal causada por agentes patógenos, como bactérias, vírus e protozoários. Segundo a OMS e o Unicef, o rotavírus responde por 40% das internações hospitalares de crianças até 5 anos

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