Safra de grãos deve trazer seis meses de caos no trânsito
Da Redação
As estradas da Baixada Santista podem viver seis meses de caos, entre o final de abril e outubro. Esse é o período do escoamento da safra de grãos. Não há qualquer planejamento de operação especial nas rodovias da região para absorver o aumento do número de caminhões, o que deve ocorrer dentro de pouco mais de um mês.
Sem um planejamento, a tendência é de se repetirem os congestionamentos de anos anteriores. Com o agravante da previsão do Ministério da Agricultura de um novo recorde para a safra de grãos 2010/2011. Como o Porto de Santos escoa um terço de toda exportação do Brasil, não é difícil prever mais dor de cabeça para quem vai e volta de São Paulo, ou para quem mora em Santos ou em Cubatão (e vice-versa).
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Cubatão já manifestava preocupação com aumento do fluxo de veículos antes do Carnaval e programou uma reunião para tratar da logística regional, na terça-feira, às 10 horas, em sua sede.
A expectativa do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Litoral Paulista (Sindisan) é de picos de movimentação de 15 mil caminhões por dia nas estradas locais, enquanto durar a safra de grãos. A previsão é vista com naturalidade pelo diretor-superintendente da Ecovias (concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes), Humberto Gomes.
"Hoje, independentemente da safra de grãos, temos movimentação diária de 10.500 a 11 mil caminhões". Em razão dessa "normalidade", a Ecovias não preparou nenhum esquema especial para absorver maior demanda de tráfego. A empresa aposta na fiscalização e no controle, por parte da Codesp (empresa federal que administra o Porto de Santos), do agendamento de cargas com destino ao complexo portuário santista. "Nos anos anteriores, tivemos alguns problemas. Houve filas quando não foi feita a fiscalização adequada. O controle é essencial para esse desembarque", admite Gomes.
Duas causas
A união entre dois fatores (aumento da safra e crescimento do comércio exterior) são as causas de grandes congestionamentos, na visão do diretor da concessionária. Ele compara o fenômeno aos dias de sol em feriados prolongados. O anúncio de aumento da safra de grãos não chega a preocupar Humberto Gomes.
"O impacto não será tão forte porque não virá de uma só vez". Nem a previsão de 15 mil caminhões por dia, feita pelo Sindisan, é motivo de alarme para a Ecovias. "Já tivemos isso no ano passado. Esse não é o problema. Tem de ser feito o agendamento correto de descargas no Porto".
Codesp deve agir
A Codesp pode colaborar para diminuir o conflito entre o aumento do número de caminhões e o trânsito urbano. Esse é o entendimento do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Litoral Paulista (Sindisan).
"A Autoridade Portuária tem de fazer valer sua autoridade. A Codesp não pode só ficar ameaçando punir os caminhoneiros", argumenta o presidente da entidade, Marcelo Marques da Rocha. A simples punição ao caminhoneiro que não respeitasse o esquema também não resolveria o problema, segundo ele. "Acha que com isso vão acabar com os caminhoneiros? E o que vai acontecer? A carga será carregada no lombo?" O sindicalista diz que a Codesp poderia exigir o agendamento de cargas para disciplinar a entrada de caminhões no Porto de Santos.
O sistema sugerido por Marcelo Marques da Rocha prevê que a empresa de transporte apresente uma sequência de chegada de caminhões ao Porto. Isso evitaria dois problemas: "Há caminhoneiros que tomam arrebite e fazem corrida na estrada, provocando acidentes, matando gente inocente. A corrida é tanta que eles urinam em garrafas plásticas, não param nem para ir ao banheiro", denuncia o presidente do Sindisan. Arrebite é o termo para os energéticos usados por alguns profissionais do volante para não terem sono enquanto estão na estrada, dirigindo.
O sindicalista aponta que essa solução só foi apresentada verbalmente pelos órgãos envolvidos, mas nunca colocada na prática. "O papel da Codesp é chamar o embarcador e orientar quanto à descarga sequencial", argumenta Rocha, Segundo ele, abril inaugura um período de "seis meses de confusão" nas estradas da Baixada por conta do aumento da safra de grãos. "Teremos picos de 15 mil caminhões por dia por aqui".
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