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terça-feira, 12 de julho de 2011

Após 3 meses, familiares de soterrados ainda aguardam resgate na pedreira

Papo com editor

Michella Guijt


Segundo a empresa os trabalhos de resgate continuam após 71 detonações

"É uma espera muito angustiante e desgastante. Estamos desorientados, sem rumo". Esse é o sentimento de Maria Aparecida Mendonça de Souza, uma das seis irmãs de Jucelino Mendonça de Souza, um dos trabalhadores soterrados no deslizamento de rochas na Pedreira Santa Teresa, administrada pela mineradora Max Brita desde 2006.


O acidente aconteceu há exatos três meses, na sede da empresa, em Monte Cabrão, na Área Continental de Santos. O outro operador de retroescavadeira que aguarda resgate sob 100 mil toneladas de rochas, pedras e terra é Walter Santana Holtz, de 49 anos.

Desde o desmoronamento, os dois trabalhadores e os equipamentos que ambos dirigiam estão desaparecidos sob os escombros. "Não é possível que com toda tecnologia de hoje não encontrem nem meu irmão nem as máquinas", alega Maria Aparecida.

Segundo aempresa, os trabalhos de resgate continuam. "Até ontem (domingo), foram retiradas mais de 68 mil toneladas de rochas do local, após 71 detonações. O material retirado foi estocado nos depósitos existentes no pátio da empresa", explicou, por meio de nota, o engenheiro de Minas da Max Brita, Denilson Cupertino.

Sobre a previsão de localização dos corpos dos trabalhadores, a empresa informou ser impossível dar uma estimativa, devido ao grande volume de rochas existente sobre os equipamentos.

Assistência

A Max Brita também afirmou que os salários dos dois funcionários estão sendo pagos integralmente e que os parentes das vítimas possuem assistência psicológica, reuniões explicativas sobre os trabalhos desenvolvidos - por meio de visitas domiciliares - e toda a assistência necessária para que eles possam acompanhar o processo diariamente.

No entanto, a informação é contestada pela família de Jucelino. "Tivemos acompanhamento psicológico só no primeiro mês após o acidente. Eu não tenho mais condições de ir até lá (pedreira) e não ter notícias do meu irmão. Quem tem ido é minha mãe", afirma Maria Aparecida.

Segundo ela, a família não recebe ajuda para se locomover até a mineradora. "Minha mãe, de 61 anos, tem que tomar duas conduções e andar quase um quilômetro para saber notícias do filho", explica a irmã da vítima, cuja família mora no bairro Morrinhos, em Guarujá. Jucelino Mendonça de Souza, de 45 anos, era casado e deixou cinco filhos. "Minha cunhada e meus sobrinhos estão desesperados, assim como todos nós", lamenta.

Causas

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Santos, órgão que participou do resgate no seu período crítico, as chuvas e a atividade local podem ter provocado o desmoronamento. "Houve um volume pluviométrico muito grande à época do acidente. Esse fator, somado à atividade exploradora do local, são as prováveis causas do deslizamento", afirma Daniel Onias Nossa.

Acidentes anteriores

O acidente que soterrou os dois trabalhadores não foi o primeiro a acontecer na pedreira Santa Teresa. "Em 2009, meu irmão machucou o joelho após saltar da máquina durante um deslizamento. No ano seguinte, houve mais um desmoronamento", revelou a irmã de Jucelino.

A MaxBrita contesta."O que ocorreu em 2009 não foi um deslizamento, e sim um acidente rotineiro de trabalho, quando o trabalhador, ao sair do veículo, machucou o joelho", informa a empresa, por meio de nota.

Ministério aguarda documentos

O acidente na Pedreira Santa Teresa é acompanhado pelos Ministérios Públicos do Trabalho e Meio Ambiente em Santos, além de ser investigado pela polícia civil, por meio de inquérito que tramita no Fórum da Cidade.

A promotora de Justiça do Meio Ambiente e Urbanismo de Santos, Ana Paula da Cruz, destaca que o acompanhamento dos trabalhos na pedreira é anterior ao acidente. "As atividades dessa empresa são anteriores às normas atuais. Por isso, ainda aguardo da Max Brita um Prade (Plano de Recuperação de Área Degradada)".

Segundo ela, em janeiro, a Max Brita encaminhou uma primeira versão do Prade, mas a mesma não atendeu às exigências do órgão. "A empresa ainda precisa fazer uma série de adequações. O primeiro prazo expirou em maio mas, devido ao acidente, eles (a mineradora) pediram prorrogação da data", explica Ana Paula.

Reunião

A promotora já convocou representantes do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e outros órgãos públicos para uma reunião no próximo dia 27. O objetivo é ter mais informações sobre as atividades da Max Brita e assim definir uma nova data para a entrega do Prade. "Ainda não tive do DNPM o retorno se a mineradora ultrapassou os limites (físicos) de exploração mineral na área ou não", explica a promotora.

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